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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Os tempos difíceis do Bon Jovi

Dias inteiros trancados em um estúdio, discussões eternas até que o álbum fique pronto, eventos de divulgação. Depois, meses longe de casa, da família e dos amigos. Convivência com as mesmas pessoas, rotinas em quartos de hotéis. Discussões. Toda grande banda já passou por um momento difícil, em que o desgaste físico e emocional geram dúvidas acerca da continuidade da banda. O presente texto é uma reflexão sobre como o Bon Jovi enfrentou o seu momento difícil e de que forma ele afetou o trabalho posterior da banda.

Ao longo do ano de 2010, algumas declarações revelaram complicados níveis de dissidência em três bandas diferentes. Os irmãos Zac e Josh Farro anunciaram as suas saídas do Paramore, uma banda jovem. A justificativa alegada foi a insatisfação dos dois com a maneira com que a vocalista da banda, Hayley Williams, conduzia o processo de composição da banda. O Vocalista Chris Martin do Coldplay, uma banda em meia-idade, afirmou que sua banda passou por, nas suas palavras, más vibrações após o fim da última turnê, algo que havia se repetido em 2005, antes de gravarem o seu terceiro álbum X&Y. Por fim, Keith Richards, dos legendários e veteranos Rolling Stones, afirmou em sua recém-lançada auto-biografia que não visita o camarim de Mick Jagger a mais de 20 anos, e que muitas vezes não reconhecia mais o seu grande amigo com quem formou a banda quase 50 anos atrás.



Tudo isso ilustra o quanto – não importando a idade, o sucesso ou a dimensão que atinge a sua obra – é complicado fazer parte de uma banda. É preciso que todos tenham uma mesma idéia sobre como deve ser o som que se produz. É preciso acalmar egos e aceitar quando uma idéia sua para uma canção escrita por você é refutada por todos os demais. Planejar aonde se quer chegar no estúdio, conseguir um consenso no grupo em relação às canções, decidir o nome do álbum, a capa, o encarte, qual deve ser o primeiro single.


Após toda essa delicada tarefa, vem a turnê. Passam-se meses longe de casa e da família, viajando sempre com as mesmas pessoas. Variações de humor e hábitos individuais acabam sendo amplificados e a chance de conflitos aumenta. Em 2008, o Oasis – conhecido pelas fortes brigas entre os seus integrantes – encerrou suas atividades minutos antes de uma apresentação em Paris. O dia-a-dia de uma banda acaba sendo semelhante ao de um namoro – Embora a vista de quem vê pareça ótima, é preciso ter muita maturidade e sintonia entre os membros para evitar que essa visão apenas uma simples ilusão.


Embora os bons tempos atuais tenham dissipado da memória coletiva dos fãs, o Bon Jovi teve momentos delicados ao longo de sua longa carreira. O mais representativo deles foi o período entre 1988-1992. Determinada a provar para todos que não seria apenas uma faísca e poderia se tornar uma grande banda, o Bon Jovi lançou o álbum “New Jersey” e se lançou a uma longuíssima turnê, que passou por mais de 22 países em 232 shows (cabe aqui lembrá-los de que estamos falando dos anos 80, uma época em que fazer uma turnê dessa dimensão era um desafio imenso). Para se fazer uma comparação, até agora a The Circle Tour, tendo visitado 4 continentes, tem 130 shows. A Lost Highway Tour contou com 113. A Have a Nice Day tour, 89.


O desgaste moral, físico e emocional de tamanha turnê levou a tona diferenças e discussões entre os integrantes da banda. A situação se tornou grave ao ponto de, ao fim da New Jersey Syndicate Tour, os integrantes da banda voltarem pra casa em aviões individuais e simplesmente se voltarem para seus interesses individuais. Enquanto não se iniciava nenhuma conversa sobre um novo álbum, John e Richie gravaram seus álbuns solos, David dividiu o seu tempo entre a internação em um hospital e a composição de trilhas sonoras e Alec sofreu o seu acidente de moto.


A banda começa a respirar novos ares somente quando os então 5 membros se reúnem numa ilha caribenha em Outubro de 1991. Segundo entrevistas dadas, a inicial “conversa de surdo” (com cada um falando que não tinha problema nenhum, mas todos os outros tinham) foi aos poucos dando lugar a cada membro falando o que lhe incomodava na banda sem ser interrompido. Colocaram-se as cartas na mesa e o Bon Jovi, ao contrário de 90% das bandas que chegam a esse ponto, encontrou uma maneira de resolver as insatisfações. Se me permitirem uma opinião pessoal, essa foi a primeira grande prova de grandeza que a banda deu.



A longo prazo, é fácil perceber como esse período de incertezas foi importante para a história da banda. A oportunidade de conversar de forma franca após um longo período afastados permitiu que “Keep The Faith” viesse a luz, e com ele a primeira reinvenção da banda. Os anos 90 viram um Bon Jovi de fôlego renovado, experiente, maduro e confiante que conseguiriam tocar juntos por muitos anos. Viram um Bon Jovi de postura diferente, com um álbum mais denso e mais maduro, cabelos cortados e uma turnê com menos datas. Certamente, nada disso aconteceria sem muita conversa.


No final dos anos 90, uma outra interrupção, mas dessa vez não causada por conflitos. Uma pausa planejada e feita a partir de um consenso entre os agora 4 membros da banda (Alec havia se aposentado). Até o lançamento de Crush em 2000, o Bon Jovi nunca tinha passado tanto tempo sem gravar. Mas isso significou uma nova reinvenção da banda.


Hoje nós fãs podemos ter a certeza de que a banda encontra-se mais unida do que nunca. A grande prova disso é a quantidade de material que foi lançado na última década – os 5 álbuns de estúdio, o Box 100.000.000 Bon Jovi Fans Can’t Be Wrong, 1 álbum ao vivo e uma coletânia. Embora nunca mais houve uma turnê tão grande como a New Jersey Syndicate Tour, nunca o Bon Jovi trabalhou tanto em uma década. Nunca trabalhou tanto tempo sem que eventuais desgastes e rachaduras tornassem necessário um período maior de descanso da banda. O Bon Jovi nunca esteve tão unido.
 Fonte: Bon Jovi Brasil

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